Empregadores portugueses são os menos escolarizados da UE
Portugal é o país da União Europeia onde
há mais empregadores e trabalhadores por conta de outrem sem formação
secundária e superior. Média da UE é de 17%.
9 de Outubro
de 2018, 8:43
FERNANDO
VELUDO/NFACTOS
Em cada 100 empregadores portugueses, 55 não têm o ensino secundário ou
superior — em 1992 eram 79 em cada 100. Este número coloca Portugal no topo da
lista de países onde os patrões têm menos formação. Logo a seguir surgem Malta,
Espanha, Itália e Grécia. Na União Europeia, a média é de 16,6%. Os números
fazem parte do Retrato de
Portugal na Europa, apresentado esta terça-feira
pela Pordata.
Os trabalhadores também não estão numa situação particularmente favorável.
Os números mostram que 43,3% dos que trabalham por conta de outrem também não
têm mais do que o 9.º ano. À semelhança do que acontece com os dados
relativos aos empregadores, os primeiros lugares são ocupados por Malta,
Espanha e Itália. A média europeia ronda os 16%, indicam os dados
publicados pelo Eurostat a partir dos Inquéritos ao Emprego nos
Estados-membros.
“O problema da formação profissional dos empregadores portugueses está nas
micro e nas pequenas empresas”, aponta António Casimiro Ferreira, investigador
no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra e membro do
Núcleo de Estudos sobre Democracia. “Coloca-se o ónus da produtividade nos trabalhadores.
Fala-se da formação profissional dos trabalhadores, mas nunca se considera
como elemento de produtividade e competitividade a formação
dos empregadores”, aponta o investigador.
O problema é “crónico”, diz Manuel Carvalho da Silva, também investigador
do CES. E até elenca a possibilidade de se ter intensificado com a crise.
“O desemprego levou à iniciativa própria de muita gente, o que levou muitos a
aparecerem como empresários sem o serem realmente. Isso é um aspecto que se
deve considerar.”
Maria João Valente Rosa, directora da Pordata, nota que “temos feito
avanços, mas ainda estamos muito aquém daquilo que seria confortável e
desejável” nesta área. O facto de “a maioria dos empregadores ter, no máximo, o
9.º ano de escolaridade coloca-nos numa posição de enorme
desvantagem”.
São estes dados que ajudam depois a explicar outros indicadores como a
produtividade laboral por hora de trabalho: Portugal fica 33,6 pontos
percentuais abaixo do valor de referência para a UE, 100%. O que nos coloca no
10.º lugar na lista dos menos produtivos que é dominada pela
Bulgária. Por outro lado, estamos entre os que trabalham mais horas.
“É claro que o caminho está a ser percorrido", nota. "Mas temos
de andar muito mais rápido do que os outros. A nossa posição de partida também
nos colocava em enorme desvantagem. Temos de fazer um esforço enorme para
chegar a níveis relativamente confortáveis, sabendo nós que o conhecimento é o
que pode fazer a diferença no que diz respeito à dinâmica económica das várias
sociedades”, sublinha a demógrafa.
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