terça-feira, 13 de abril de 2010

Concurso Sophia de Mello Breyner Anderson

Forma interessante de participação neste concurso. Parabéns à aluna!!
A Fada Oriana
Era uma vez uma pequena fadinha chamada Oriana, ela é uma fada que existe, mas que as pessoas não vêem.
É uma fada boa, pois a sua varinha só é usada para ajudar as pessoas, os animais, a natureza, enfim o mundo inteiro.
Um dia ela teve de escolher o seu destino, havia dois caminhos possíveis, ou se juntava às andorinhas e com elas fazia uma grande viagem pelo mundo, ou então ficava a cuidar da sua floresta, dos seus amigos e das pessoas que não viviam sem a sua ajuda. Na verdade, Oriana pensou muito e custou-lhe muito deixar as suas responsabilidades para trás, mas desta vez ela ia abrir asas e voar junto das andorinhas, ia conhecer cada canto do mundo e ver belezas que nunca tinha visto.
Antes de partir, a fada despediu-se de canto a canto da sua floresta, que no fundo era a sua casa, a sua vida.
Mal o sol nasceu, ela ergueu as asas e foi tratar dos pássaros, ajudou a recompor os ninhos desfeitos e deixou-lhes, como sempre, comida para alimentarem os passarinhos que tinham nascido há pouco tempo.
Em seguida, Oriana pegou na sua bolsa e foi ao rio buscar água para regar cada planta e, por fim, passou em todas as casas dos humanos para deixar o que faltava.
A sua mente preocupava-se com tudo o que ia deixar para trás, mas no fundo o seu coração dizia que ela precisava de conhecer o horizonte e ir direito ao céu.
Oriana partia enquanto deitava lágrimas sem fim, mas ao mesmo tempo com um sorriso na cara e um brilho na alma.
- Anda, não olhes para trás, é agora que vais conhecer o mundo! – aconselharam as andorinhas.
Oriana fechou os olhos e olhou em frente sem mais olhar para trás.
Depois de muito voarem pelo lindo céu azul, chegaram ao seu primeiro destino, uma terrinha chamada Laranja, e tinha este nome porque era a terra com mais laranjas no mundo.
– Andorinhas! O que são aquelas coisas redondas que têm uma cor linda e que reflectem cada raio de sol? – perguntou Oriana. – Minha querida Oriana, aquilo são frutas que se chamam laranjas e que além de serem lindas também são deliciosas. – responderam as andorinhas. Oriana nunca tinha visto aquele fruto, sorriu e foi visitar o resto da terra.
Ao final do dia, foram para uma árvore para poderem dormir.
Antes de adormecer, Oriana só conseguia pensar nas coisas novas que tinha visto e aprendido, as frutas brilhantes e deliciosas, as flores vivas e coloridas e também mal podia esperar pelo dia seguinte e pelas coisas que ia conhecer. Na manhã seguinte, Oriana foi a primeira a acordar e esperou pelas suas amigas.
- Hoje vamos a uma loja. – disseram as andorinhas. - Está bem. Vamos, vamos! – exclamou Oriana ansiosa. Chegaram à loja e Oriana reparou que era uma loja mágica onde as fadas eram vistas pelas pessoas.
Oriana passou lá dentro horas, a ver cada frasquinho e pote colorido.
Acabou por comprar um chá especial que, se ela o bebesse, se transformava numa rapariga normal, mas o efeito durava apenas quatro horas.
Oriana curiosa foi beber o chá e, de repente, desceu à terra e viu-se no meio da rua rodeada por pessoas e sorrisos.
Pela primeira vez, ela tinha a oportunidade de cumprimentar as pessoas e de falar com elas.
Apesar de não ter asas, Oriana nunca se tinha sentido tão livre, parecia estar a conhecer-se a si própria pela primeira vez. Sem esperar um segundo, Oriana foi visitar todas as lojas daquela rua, pôde comprar pulseiras, vestidos, brincos, agora podia ter a vida de uma simples rapariga, mas não era assim tão simples, pois, apesar de ter aproveitado cada segundo, as quatro horas passaram a correr e depressa voltou a ser a fadinha.
Foi guardar os sacos com as coisas novas na árvore e agradecer às andorinhas a experiência.
Mais tarde, foi sozinha dar uma volta pela terra. A uma certa altura, começou a ouvir um som estranho, mas que era maravilhoso e intrigante. Oriana decidiu seguir o som que a levou até ao mar, as ondas dançavam para a frente e para trás, pareciam incansáveis. Mais uma novidade para os olhos de Oriana, era algo inexplicável, pois conseguia transmitir tantos sentimentos ao mesmo tempo: medo, paixão, beleza, imaginação, tristeza, alegria; ali parecia que os opostos se ligavam formando um só.
Maravilhada com a vista, Oriana passou a noite na praia a observar o mar e também as estrelas brilhantes que cintilavam no céu.
Acabou por adormecer na praia e, na manhã seguinte, foi acordada pelas suas amigas andorinhas que lhe disseram para se despedir da terra, pois era hora de irem visitar novos sítios.
Sem demorar muito, deram uma última volta pela zona e partiram para novas aventuras.
Desta vez, ficaram numa cidade chamada Líris, diz-se que nela as pessoas encontram a verdadeira magia dentro de si.
Oriana tomou o seu chá especial e foi visitar a cidade.
Começou a conviver com as pessoas e a criar novos amigos.
Com o passar do tempo, a fada deixava cada vez mais o passado para trás e entregava-se ao presente.
Os seus dias já eram uma rotina e, a cada dia que passava, ela aproximava-se e afeiçoava-se às pessoas.
Naquela cidade, Oriana começou a descobrir novas sensações e novos sentimentos. Conviver com as pessoas, trocar carinho e amizade, chorar de tanto rir.
Mas Oriana estava agora prestes a descobrir um sentimento completamente novo: o amor.
Sem dar por isso, ela começava a sentir os sintomas da paixão.
Quando estava ao pé do seu amigo André, o seu coração batia mais depressa e o calor invadia-lhe o corpo. Da parte dele também se podia dizer o mesmo, pois ele sentiu aquilo a que se chama “amor à primeira vista”. Ele achava-a perfeita, cada madeixa do seu cabelo loiro, cada traço do seu rosto, o brilhar dos seus olhos azuis, simplesmente linda e de bom coração.
Passavam os dias juntos, momentos de pura inocência.
Oriana lamentava ter de ir embora ao fim de quatro horas, mas o seu segredo de ser fada não podia ser revelado.
Passados uns dias, as andorinhas avisaram Oriana que estava na hora de irem embora e ela ficou triste com a ideia de deixar a cidade, sentindo mesmo um aperto no coração ao pensar que ia deixar de estar com o André.
Na noite anterior à partida, Oriana ficou com o seu príncipe encantado, juntos foram passear pela praia e acabaram por adormecer abraçados. A lua banhava os seus corpos com luz e o som do mar acalmava as suas almas.
Sem saber como, o rapaz acordou sozinho na areia com um texto escrito ao seu lado, lá Oriana explicava que tinha de fazer uma viagem, mas também prometia voltar.
No rosto de André caiam suaves lágrimas sem parar e, dentro de si, ele decidiu que ia esperar todo o tempo do mundo para poder voltar a abraçar Oriana.
Chegou a hora, a fada e as andorinhas levantaram voo e foram para um novo lugar, um lugar que para a fadinha nada era igual, nada tinha o mesmo valor nem o mesmo encanto.
Ela andava sem direcção pelas ruas, sentia que o seu corpo estava lá, mas que o seu coração tinha ficado em Líris, a pequena cidade onde morava o rapaz que tinha conquistado o seu amor.
Passaram-se uns dias e Oriana tomou uma decisão, ela ia deixar as andorinhas para voltar para trás.
A viagem era para descobrir o mundo, mas o sentimento que tinha descoberto era mais.
A fada despediu-se das suas amigas e agradeceu por tudo pois era graças a elas que Oriana tinha vivido os melhores momentos da sua vida.
Sem hesitar, Oriana voltou para trás, agora era hora de tornar o sue sonho realidade.
Quando Oriana chegou a Líris foi logo à procura do André, mas não o encontrou, por isso foi perguntar aos seus amigos. Estes deram-lhe uma triste notícia, o rapaz tinha desaparecido.
Oriana, ao ouvir aquelas palavras, só conseguia sentir culpa dentro de si e medo de o perder. Sem esperar foi proculá-lo por todo o lado, cada beco sem saída, cada casa, cada canto, cada banco de jardim e finalmente Oriana encontrou-o na praia, no sítio exacto onde tinham estado juntos pela última vez.
E foi naquela hora, com aqueles minutos e segundos que o mundo parou de girar enquanto os seus lábios se cruzavam suave e delicadamente um no outro.
De mãos dadas, sentiam estranhos choques eléctricos que lhes percorriam o corpo e o brilho da sua alegria era mais forte do que o reflexo da lua nas ondas do mar.
A sua felicidade aumentava de dia para dia, mas Oriana tinha de fazer uma grande decisão, ela tinha de escolher entre a magia e o amor, pois se ela quisesse ser feliz naquele sitio e ter realmente uma vida normal para sempre.
Foi naquele momento que a fadinha decidiu entregar a sua varinha e as suas asas ao destino e entregar-se à vida sem medo pois ela nunca deixará de ser quem é, a força será a mesma, os sonhos serão os mesmos e principalmente, o coração será o mesmo. Oriana era agora uma rapariga como as outras.
Eis uma prova como por vezes pequenas decisões mudam a nossa vida e que se aproveitarmos as coisas boas nunca nos iremos arrepender.
Ela trocara a sua varinha pelo amor e agora irá ser feliz para sempre com a magia que descobriu dentro de si.

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