segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Colaboração da BE no jornal "100 Comentários"

A Vã Glória de Mandar

A interrogação pascaliana sobre o fundamento da identidade humana conduz-nos a um conjunto de aporias, subjacentes às quais se encontra uma derrelicção paroxística.

Se “ ninguém consegue ver além de si mesmo”, como afirma Schopenhauer, como justificar o desejo de poder, convertido em paliativo anagógico?

No mundo dos tíbios em que vivemos, o desejo de poder, que converte a loucura demencial em disciplina meritocrática, a melopeia deletérica que acompanha esta nova necessidade metamorfoseou-se numa parábola ignóbil, mas eficaz, narrada de maneira deformada por terceiros, com o objectivo de modificar por reacção os nossos aparentes perenes códigos religiosos e ético-morais.

Sob a égide do pathos do mal e, tal como os prisioneiros da Alegoria da Caverna de Platão, procuramos a ataraxia dos justos vivendo num simulacro entrópico social ao nos rodearmos de obrigações, contratos e sujeições que nos proporcionam a pseudo-invulnerabilidade do poder.

As nossas dissonâncias cognitivas e a manipulação alienatória e instrumentalizadora do outro permitem a edificação deste novo princípio moral, convertido em direito absoluto.

Assim, os novos ágapes proliferam e em nome de um novo imperativo categórico, aquém da astúcia da razão Hegeliana, somos de novo reféns de nós próprios, e felizes por pertencer a Leviatã renascemos para o rebanho, auto-iludidos que mandamos nos mais fracos, nos néscios e somos mandados por aqueles que exercem o medo e respectivo autoritarismo procaz e concupiscente. Mas é o reduto da inveja capciosa, pulsante de anagnórise, que permitirá justificar subliminarmente o desejo e a vontade de poder.

Imbuída do complexo de Cassandra e face aos meus émulos, os novos deuses do Olimpo convidam-vos a assinar a nova petição de miséria.


Inês Aguiar


Sem comentários: