No ínicio da sua carreira poética encontramo-lo ligado ao grupo da Távola Redonda, de que foi fundador e director e na qual se tornam proeminentes os seus méritos de crítico e, sobretudo, de poeta. Nesta fase, David Mourão - Ferreira, utilizando um pecúlio mais restrito de vivências, cujo enriquecimento progressivo vem marcando a sua ascensão e o integrou na constelação dos mais escolhidos poetas da modernidade, revela uma aguda intuição formal, um senso físico da poesia que imprime aos seus versos uma peculiar maturidade técnica (…)
Em In Memoriam Memoriae (1962), David Mourão - Ferreira dá-nos o apogeu da sua ciência poética, exaurindo-lhe os recursos, como se com este livro quisesse fechar um ciclo que, efectivamente, o vemos abandonar para, com a publicação de Infinito Pessoal ou a Arte de amar (1962), abrir outro, onde nos oferece as suas melhores potencialidades.
In: Natália Correia - Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica Antígona - 1999
Vem à BE da ESLA e deixa-te (en)cantar!!!!
Abandono
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
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