segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A BE e a colaboração no jornal do agrupamento

Auto Simonias beócias


Nas minhas arengas argumentativas está presente uma egéria fidúcia, não obumbrada com anagogias ignaras. Sou objeto de facécias e motejo, reveladores de sentimentos merencórios, pouco maviosos.

Desejo continuar a propalar reverberes convicções, de forma facúndia e sem pudicícias eufruísticas. Os apodos metamorfoseiam-se no sangue de histrião e a pravidade denuncia uma potestade nos proscénios atuais, caraterizados pela ausência da esfera privada e pelo desejo de arúspices, causadores de íncubos melífluos.

Esvurmo pelo desvelamento da verdade e, talvez, por isso, o Ajon de Antígona continue a estar presente na essência do meu messianismo, sem qualquer tipo de messias, sejam eles políticos, éticos, religiosos, ideológicos, facilmente convertidos em apriscos e onde somos todos convidados à dimitude.

As melismas atuais já não convencem e as novas exigências inexoráveis telúricas, face a uma multidão paranoide, anunciam o seu respetivo poslúdio.

Os beócios são abençoados e as simonias proliferam em inanes delíquios de pitonisa … eis-nos de novo, nas torres de silêncio de Zoroastro.

Inês Aguiar

A Criação, de Michelangelo

2 comentários:

Anónimo disse...

Tradução anotada de “Auto Simonias beócias” de Inês Aguiar

Nas minhas palestras argumentativas está presente uma inspiradora confiança,(1) não encoberta por misticismos (2) ignorantes. Sou objecto de troça, reveladora de sentimentos melancólicos, pouco afetuosos.
Desejo continuar a propagar convicções reverberantes, de forma eloquente e sem pudicícias afetadas. (3) A chacota metaformoseia-se no sangue do palhaço (4) e a maldade denuncia um poder nos palcos actuais, caracterizados pela ausência da esfera privada e pelo desejo de sacerdotes adivinhadores (5) causadores de íncubos melosos.
Remexo para revelar a verdade e, talvez por isso, o Ajon de Antígona (6) continue a estar presente na essência do meu messianismo, sem qualquer tipo de messias, seja ele político, ético, religioso, ideológico, facilmente convertido em curral onde somos todos convidados à menoridade. (7)
As cantigas de embalar atuais já não convencem e as novas exigências inexoráveis terrenas, face a uma multidão paranóide, anunciam o seu fim. (8)
Os simplórios são abençoados e a compra de favores prolifera em desfalecimentos vazios (9)… eis-nos de novo nas torres de silêncio de Zoroastro. (10)

Anónimo disse...

Notas do comentário anterior
(1) ‘[E]géria fidúcia’ no original. A egéria é uma conselheira secreta ou uma mulher inspiradora. Aparentemente o substantivo ‘egéria’ foi aqui usado como adjectivo.
(2) O original ‘anagogias’ significa êxtase místico ou interpretação não literal de textos sagrados, ou o primeiro obtido através do segundo.
(3) ‘[E]ufruísticas’ no original. Não consegui encontrar essa palavra em mais lado nenhum. Talvez a autora pretendesse ‘eufuístico’, relativo a um estilo literário afetado, em que a forma engenhosa e a exibição da erudição do autor se sobrepõem ao conteúdo. Ou talvez seja uma invenção baseado no sufixo ‘eu’ (bem) e o verbo ‘fruir’. O leitor que tente imaginar o que seria uma pudicícia eufruística neste segundo sentido.
(4) O ‘histrião’ do original era um actor em farsas da antiguidade. Não percebo se o histrião neste caso é a autora ou o trocista. Também não fica claro no que é que a chacota se transforma.
(5) Os ‘arúspices’ do original eram sacerdotes romanos que adivinhavam o futuro através da inspecção das entranhas de animais sacrificados. Não se percebe se nos palcos actuais os arúspices são desejados ou têm desejos. Também não se percebe como é que arúspices ou desejos deles possam causar íncubos, ainda por cima, melífluos.
(6) Ajon é uma cratera marciana e uma aldeia siberiana. O Ajon de Antígona, não sei o que seja. A Antígona é uma heroína duma tragédia grega. Ela desfiou a autoridade do rei por fidelidade às suas convicções morais e religiosas, e pagou com a vida por isso. Percebe-se que isto possa ter alguma coisa a ver o com messianismo da autora.
(7) A ‘dimitude’ é a sujeição das religiões cristã e judaica, nos países maioritariamente islâmicos, à ‘protecção’ de autoridades islâmicas. A frase é muito longa, mas entende-se que um messias se transforma num curral, enquanto um messianismo sem messias já parece ser fixe.
(8) O fim anunciado é provavelmente o das cantigas de embalar, até porque no original, em vez de ‘fim’, vem ‘poslúdio’, um trecho musical executado depois duma acção ou cerimónia, apropriado para fechar uma cantiga. Mas não é garantido que o fim que se anuncia não seja o das tendências terrenas, ou mesmo o da multidão paranóide.
(9) No original, “inanes delíquios de pitonisa.” A pitonisa era a sacerdotisa do templo de Apolo em Delfos, que transmitia o oráculo aceite como inspirado pelo deus. Alguns autores pensam que a inspiração da pitonisa viesse de gases alucinogénios que emanariam do solo no lugar onde a pitonisa proferia o oráculo. Parece que no fim da sessão a pitonisa caía exausta. A pitonisa era frequentemente consultada acerca de conflitos internacionais e alguns autores sugerem que o oráculo podia ser influenciado a troco de riquezas.
(10) As torres de silêncio são construções em sítios altos onde os seguidores da religião de Zoroastro depositam os cadáveres, considerados impuros, para que sejam comidos por aves de rapina.