Há cada vez mais alunos com sono porque estiveram no
computador até tarde
20/01/2013 - 08:10
Deixam de dormir, de comer ou de ir à casa-de-banho
para jogar, relatam os psicólogos. O que fazer para que os mais novos não se
movimentem só no mundo virtual?
Dores nos olhos, nas costas e na cabeça podem ser sinais de alerta para uso abusivo do computador NELSON GARRIDO
Passam horas a fio a jogar online. Não comem, não dormem, nem vão à casa de
banho. Há crianças que vão com sono para as aulas, adolescentes que faltam à
escola para jogar. Os pais chamam-nos para jantar e eles pedem sempre mais
cinco minutos que se transformam numa hora. Por vezes os pais desesperam,
desligam a ficha e os filhos reagem de forma agressiva. Há quem peça aos pais
para lhes levarem o jantar num tabuleiro ao quarto e outros que não conseguem
passar nem dez minutos sem ir ao telemóvel.
Estas são apenas algumas histórias relatadas ao PÚBLICO por psicólogos que
estiveram no Simpósio Internacional sobre o impacto das novas tecnologias no
desenvolvimento das crianças, nos jovens e nas famílias, promovido pelo CADIn –
Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil. À margem do encontro, procuramos
também perceber de que forma pode afectar o desempenho escolar, o comportamento
e a atenção das crianças.
Recolheu inúmeros testemunhos como o de um menino do 6.º ano que contou que
o irmão, que não largava o computador, pediu ao pai que passasse a deixar o
jantar num tabuleiro à porta do quarto – o pai acedeu. Ou crianças do 5.º ano
com queixas de dores nos olhos, nas costas e na cabeça, sinais que podem ser de
alerta para um uso abusivo do computador. Mas também há outras que contam que
os pais lhes dizem para largar o computador, quando eles próprios estão no
Ipad. Uma mãe “angustiada” ainda partilhou com Rosário Carmona e Costa que não
conseguia que a filha guardasse o telemóvel no bolso das calças nem por dez
minutos enquanto jantava.
“Grande parte dos problemas que os pais têm na
utilização da Internet e das novas tecnologias tem a ver com a ignorância. Os
pais que são utilizadores frequentes são os que têm menos problemas com os
filhos na utilização"
Jean-Pierre Dèmage, médico
(…)
Conhecer a ferramenta
Jean-Pierre Dèmage, do serviço de apoio a dependentes de Oise, França, alerta para o facto de as crianças se tornarem rapidamente especialistas no uso da Internet e do computador em comparação com os pais, o que, numa cultura em que tradicionalmente são os mais velhos que ensinam e transmitem conhecimentos aos mais jovens, é uma mudança que tem impacte na família.
Jean-Pierre Dèmage, do serviço de apoio a dependentes de Oise, França, alerta para o facto de as crianças se tornarem rapidamente especialistas no uso da Internet e do computador em comparação com os pais, o que, numa cultura em que tradicionalmente são os mais velhos que ensinam e transmitem conhecimentos aos mais jovens, é uma mudança que tem impacte na família.
“Grande parte dos problemas que os pais têm na utilização da Internet e das
novas tecnologias tem a ver com a ignorância. Os pais que são utilizadores
frequentes são os que têm menos problemas com os filhos na utilização". É
importante que os pais estejam a par dos sítios por onde os filhos andam.
É o mesmo com a televisão, os pais devem saber que programas é que eles
vêem, nota o psiquiatra e director cientifico do CADIn, Carlos Filipe,
ressalvando que se os pais passam horas a ver telenovelas ou nas redes sociais
não se devem espantar se os filhos fizerem o mesmo.
(…)
Fazer desporto e estar com os amigos
O neuropediatra Pedro Cabral, director clínico do CADIn, entende que as crianças precisam de fazer desporto e de estar com amigos, não de forma virtual, mas real: “Para não serem privados da brincadeira, para serem introduzidos à frustração do ‘quero brincar a isto’, ‘agora não, vamos brincar àquilo’”, diz, frisando que a interacção com o outro, frente a frente, permite gerir emoções, incluindo as de desagrado.
O neuropediatra Pedro Cabral, director clínico do CADIn, entende que as crianças precisam de fazer desporto e de estar com amigos, não de forma virtual, mas real: “Para não serem privados da brincadeira, para serem introduzidos à frustração do ‘quero brincar a isto’, ‘agora não, vamos brincar àquilo’”, diz, frisando que a interacção com o outro, frente a frente, permite gerir emoções, incluindo as de desagrado.
Admite que os pais trabalham muito e que, quando chegam a casa têm “pouca
disponibilidade interior”, mas insiste que “vale a pena” não ceder ao comodismo
de pôr as crianças em frente à televisão ou com um tablet nas
mãos. A leitura de um livro, por exemplo, ao obrigar a criança a imaginar, a
construir mentalmente as imagens, vai permitir uma “apropriação” daquele
conteúdo “mais duradoura”. Também o psiquiatra Luís Patrício, director da
Unidade de Patologia Dual da Casa de Saúde de Carnaxide, defendeu que “vale a
pena ler um livro, folheá-lo, é uma relação mais quentinha”.
(...)
Notícia corrigida dia 22/01/2013, às
8h10, corrigidos os cargos dos médicos Carlos Filipe e Pedro Cabral no CADIn.
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