terça-feira, 26 de janeiro de 2016


in: http://www.dn.pt/sociedade/interior/se-a-crianca-disser-que-nao-quer--comer-mais-nao-se-deve-obrigar-4998923.html

Se a criança disser que não quer comer mais, não se deve obrigar

Deco indica que os pais se preocupam mais quando os filhos comem menos. Usar alimentos como prémios ou obrigar uma criança a limpar o prato são erros comuns
Costuma insistir para que o seu filho coma tudo o que tem no prato? Obriga-o a comer quando ele diz que já não tem fome? Se o faz, pode estar a cometer um erro, pois o apetite da criança deve ser respeitado. Forçar o seu filho a comer mais do que lhe apetece pode conduzir a maus hábitos alimentares e a um aumento de peso.
No seu mais recente estudo sobre os hábitos alimentares das crianças, a Deco concluiu que um terço dos pais "controla em demasia a alimentação das crianças, metade reconhece que as força a comer tudo o que está no prato e um quinto confessa que usa a comida como prémio." Atitudes como estas podem incutir comportamentos alimentares desajustados e dificultar o controlo de peso.
Não deve obrigar o seu filho a "limpar o prato". "A menos que esteja doente, a criança tem capacidade autorregulatória em termos alimentares", explica Osvaldo Santos, psicólogo que coordenou o estudo. Sinais exteriores de que necessita de comer mais podem criar confusões relativamente às suas necessidades. "Insistir é promover o excesso alimentar, que a longo prazo promove ganho ponderal e pode levar à obesidade."
Marline Furtado, nutricionista, reforça que "o apetite da criança deve ser respeitado", porque, caso contrário, "ela pode não se sentir valorizada." Quando come além das suas necessidades, sem que haja um dispêndio de energia, poderá existir um aumento de peso. "E na idade adulta tenderá a repetir esses hábitos da infância." Por isso, deve insistir-se apenas "dentro do mínimo razoável" e não deixar que depois vá comer iogurtes, bolachas ou outros alimentos. "Se não tem apetite para a refeição, não vai comer nada extra."
Educar o paladar das crianças
Quando o seu filho não quer comer determinado alimento, a postura já deverá ser diferente. Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde, lembra que "o gosto por determinados produtos hortícolas não é inato", além de que as crianças tendem a "escolher sabores mais fáceis, como os salgados e os doces." Por isso, defende, é importante "insistir de forma pedagógica, mas sem uma pressão forte" para que adquira gosto por alimentos saudáveis.
Entre os 667 pais de crianças que responderam ao inquérito da Deco, 72% admitiram que proíbem a sobremesa às crianças se estas não terminarem o prato. E cerca de 20% recompensam os bons comportamentos com alguns alimentos. "A comida deve dar prazer, não deve ser usada como sistema de punição ou reforço", destaca Osvaldo Santos. Mais de um quinto dos entrevistados usam a comida para combater a tristeza e ansiedade dos filhos. "Isto pode levar a que seja comparada com algo emocional", destaca Marline Furtado, lembrando que são práticas que podem conduzir a doenças de comportamento alimentar.
É estimado que uma em cada três crianças portuguesas tenha excesso de peso, sendo a obesidade um problema que afeta 14%. É importante que os pais promovam uma alimentação variada e equilibrada, defende o investigador Osvaldo Santos, mas a restrição em excesso pode não ser benéfica, pois na ausência dos pais as crianças podem comer em demasia os alimentos restringidos. E é essencial dar o exemplo. "Comer demasiado chocolate ou muito rápido" não será um bom exemplo para o seu filho.
Para o coordenador da investigação, "um dos aspetos mais interessantes do estudo foi o facto de os pais se mostrarem mais preocupados quando os filhos comem a menos do que comem a mais". Segundo o psicólogo, isto está relacionado com uma "cultura de preocupação em garantir que as crianças comem o suficiente". Esta é, segundo Pedro Graça, uma perceção comum entre pais e educadores. "Um pouco de peso a mais não costuma ser visto como um risco", indica.

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