in: http://www.dn.pt/sociedade/interior/se-a-crianca-disser-que-nao-quer--comer-mais-nao-se-deve-obrigar-4998923.html
Se a criança disser que não quer comer mais, não se deve obrigar
Deco
indica que os pais se preocupam mais quando os filhos comem menos. Usar
alimentos como prémios ou obrigar uma criança a limpar o prato são
erros comuns
Costuma insistir para
que o seu filho coma tudo o que tem no prato? Obriga-o a comer quando
ele diz que já não tem fome? Se o faz, pode estar a cometer um erro,
pois o apetite da criança deve ser respeitado. Forçar o seu filho a
comer mais do que lhe apetece pode conduzir a maus hábitos alimentares e
a um aumento de peso.
No seu mais
recente estudo sobre os hábitos alimentares das crianças, a Deco
concluiu que um terço dos pais "controla em demasia a alimentação das
crianças, metade reconhece que as força a comer tudo o que está no prato
e um quinto confessa que usa a comida como prémio." Atitudes como estas
podem incutir comportamentos alimentares desajustados e dificultar o
controlo de peso.
Não deve obrigar o
seu filho a "limpar o prato". "A menos que esteja doente, a criança tem
capacidade autorregulatória em termos alimentares", explica Osvaldo
Santos, psicólogo que coordenou o estudo. Sinais exteriores de que
necessita de comer mais podem criar confusões relativamente às suas
necessidades. "Insistir é promover o excesso alimentar, que a longo
prazo promove ganho ponderal e pode levar à obesidade."
Marline
Furtado, nutricionista, reforça que "o apetite da criança deve ser
respeitado", porque, caso contrário, "ela pode não se sentir
valorizada." Quando come além das suas necessidades, sem que haja um
dispêndio de energia, poderá existir um aumento de peso. "E na idade
adulta tenderá a repetir esses hábitos da infância." Por isso, deve
insistir-se apenas "dentro do mínimo razoável" e não deixar que depois
vá comer iogurtes, bolachas ou outros alimentos. "Se não tem apetite
para a refeição, não vai comer nada extra."
Educar o paladar das crianças
Quando
o seu filho não quer comer determinado alimento, a postura já deverá
ser diferente. Pedro Graça, diretor do Programa Nacional para a Promoção
da Alimentação Saudável, da Direção-Geral da Saúde, lembra que "o gosto
por determinados produtos hortícolas não é inato", além de que as
crianças tendem a "escolher sabores mais fáceis, como os salgados e os
doces." Por isso, defende, é importante "insistir de forma pedagógica,
mas sem uma pressão forte" para que adquira gosto por alimentos
saudáveis.
Entre os 667 pais de
crianças que responderam ao inquérito da Deco, 72% admitiram que proíbem
a sobremesa às crianças se estas não terminarem o prato. E cerca de 20%
recompensam os bons comportamentos com alguns alimentos. "A comida deve
dar prazer, não deve ser usada como sistema de punição ou reforço",
destaca Osvaldo Santos. Mais de um quinto dos entrevistados usam a
comida para combater a tristeza e ansiedade dos filhos. "Isto pode levar
a que seja comparada com algo emocional", destaca Marline Furtado,
lembrando que são práticas que podem conduzir a doenças de comportamento
alimentar.
É estimado que uma em cada
três crianças portuguesas tenha excesso de peso, sendo a obesidade um
problema que afeta 14%. É importante que os pais promovam uma
alimentação variada e equilibrada, defende o investigador Osvaldo
Santos, mas a restrição em excesso pode não ser benéfica, pois na
ausência dos pais as crianças podem comer em demasia os alimentos
restringidos. E é essencial dar o exemplo. "Comer demasiado chocolate ou
muito rápido" não será um bom exemplo para o seu filho.
Para
o coordenador da investigação, "um dos aspetos mais interessantes do
estudo foi o facto de os pais se mostrarem mais preocupados quando os
filhos comem a menos do que comem a mais". Segundo o psicólogo, isto
está relacionado com uma "cultura de preocupação em garantir que as
crianças comem o suficiente". Esta é, segundo Pedro Graça, uma perceção
comum entre pais e educadores. "Um pouco de peso a mais não costuma ser
visto como um risco", indica.
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