DIA MUNDIAL DA CRIANÇA
in: http://lifestyle.sapo.pt/familia/crianca/artigos/defice-de-atencao-e-perturbacao-da-concentracao-na-infancia?artigo-completo=sim
DÉFICE
DE ATENÇÃO E PERTURBAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO NA INFÂNCIA
Especialista
defende que não é um transtorno de défice de atenção mas, sim, um transtorno de
variabilidade da atenção por incapacidade de controlo, inibição e adequação
comportamental.
Hispanic girl looking at
spider specimen in plastic
Vivemos numa
época em que é comum encontrarmos crianças que parecem simplesmente não se
interessar por nada. A escola não as motiva, as relações com os amigos e com os
colegas são escassas e, por vezes, complicadas. Os mais pequenos vivem alheados
na sua hipoatividade ou na sua hiperatividade. Não focam, não planeiam e não
concretizam Uma situação que preocupa muitos pais e educadores.
Infelizmente
as crianças e os adolescentes que apresentam este tipo de sintomas são
usualmente, ainda que muitas vezes erradamente, diagnosticadas com perturbação
de hiperatividade e défice de atenção (as siglas de PHDA) e medicadas em função
de uma eventual disfunção cerebral por falta de dopamina na região do córtex
pré-frontal, que afeta o desenvolvimento das funções executivas do cérebro.
As
explicações dos especialistas
Atualmente
estima-se que 90% das crianças diagnosticadas não tenham efetivamente um
metabolismo anormal da dopamina que é o que verdadeiramente caracteriza esta
perturbação. O que é que se passa então com estas crianças/adolescentes? Numa
pesquisa feita recentemente, a especialista Nicole Brown concluiu que algumas
crianças diagnosticadas com este problema sofrem, em primeiro lugar, de outros
temas que nenhum estimulante pode tratar.
Independentemente
de poderem vir a ter um diagnóstico de PHDA, a verdade é que existem fatores
emocionais que estão a desencadear os sintomas verificados e que têm que ser
tratados, antes de se pensar em qualquer alternativa farmacológica. Défice de
atenção ou perturbação de concentração então? Muito se tem discutido se esta
perturbação é física e/ou emocional, no sentido da existência ou não de um
transtorno cerebral.
Uma
discussão insípida, na medida em que exista ou não na criança um compromisso a
nível cerebral (apenas confirmado através de exames ao cérebro), existem sempre
fatores emocionais que contribuem para o aparecimento dos sintomas verificados
e que são irmãos gémeos de um funcionamento neurofisiológico/emocional que
dificulta o foco, a atenção voluntária, o domínio de si e a escolha
intencional.
Um reflexo
dos tempos que vivemos
A verdade é
que, infelizmente, o aumento exponencial do número de crianças medicadas tem
origem na crença de que se trata de uma perturbação biológica. A diferença
entre a percentagem de crianças diagnosticadas com PHDA em países como os
Estados Unidos da América e em França é de 9% para 0,5%, respetivamente, porque
em França se acredita que é um distúrbio de origem psicossocial, que deve ser
tratado com psicoterapia e aconselhamento familiar.
Ainda
vivemos numa época em que as intervenções em crianças com condutas concordantes
com o diagnóstico de PHDA se baseiam muito na procura soluções rápidas, fáceis
e eficazes, pelo menos a curto prazo. É o reflexo desta ditadura de sucesso em
que vivemos. Generalizou-se a intervenção farmacológica, através da utilização
do metilfenidato, componente da medicação psicostimulante utilizada.
Atualmente,
este já é considerado um gadget da modernidade e a intervenção de tipo
cognitivo-comportamental, com o objetivo de influenciar/alterar o comportamento
da criança, de forma a melhorar a sua conduta, o seu desempenho e o seu
rendimento académico. Será que os pais de hoje protegem demasiado os filhos?
Para saber o que dizem os especialistas que contactámos,
As (más)
abordagens atuais
Estes não
atuam, contudo, na causa, no que estás por detrás de todos os sintomas
evidenciados. Acredito que mesmo nas situações em que se verifica um
comprometimento no funcionamento físico do organismo, o que nem sempre
acontece. Existem situações em que este ficou interrompido por fatores
emocionais regredidos que colocaram o corpo num estado de depressão interna, de
fuga e de alheamento.
Um estado
que não permitiu o salutar desenvolvimento do córtex pré-frontal e com ele a
possibilidade de modular os estímulos sensoriais e emocionais, justificam os
especialistas. A perturbação de hiperatividade e défice de atenção não é um
transtorno de défice de atenção mas, sim, um transtorno de variabilidade da
atenção por incapacidade de controlo, inibição e adequação comportamental.
São questões
emocionais inconscientes que estão na base de 80% dos índices de
distratibilidade. Nada disto pode continuar a ser deixado ao acaso. É
fundamental que os profissionais de saúde se consciencializem que não podem
continuar a olhar para as disfunções neurofisiológicas de forma isolada mas
sim, como o reflexo de um mecanismo composto pela tríade corpo, mente e
espírito, que se encontra bloqueada.
É preciso
trazer estes jovens de volta à vida e ir à raiz deste funcionamento psicofisiológico.
O maior compromisso que estas crianças e adolescentes apresentam é um
compromisso consigo próprias e com a sua capacidade de adequação ao mundo. Os
seus padrões comportamentais não são mais do que a externalização do mal-estar
interno que governa as suas vidas. E os seus corpos são o reflexo disso!
Texto: Ana Galhardo Simões (psicoterapeuta
corporal)
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