Autor Português:
Em finais do século XIX, já depois da abolição
da escravatura, um tumbeiro clandestino naufraga ao largo do Brasil. Um grupo
de náufragos atinge uma praia intermitente, que desaparece na maré cheia: um
capataz, um escravo, um mísero criado, um padre, um estudante, uma fidalga e
sua filha, um menino pretinho ainda a dar os primeiros passos... Todos são
vencedores na morte, perdedores na vida. O mar, ao contrário dos seus
antecedentes quotidianos, dá-lhes agora uma segunda oportunidade, duas vezes
por noite, duas vezes por dia. Ao contrário do que pensam, não estão sós
naquele cárcere, com os penhascos enquanto sentinelas, cercados de infinitos,
entre o céu e o oceano. Trazem com eles todos os seus remorsos, todos os seus
fantasmas. E mais difícil do que fazerem-se ao mar ou escalarem precipícios
será ultrapassarem os preconceitos: os de raça, os de classe social, os de
género, os de credo. Para sobreviverem, terão de se transformar num monstro
funcional com muitos braços e muitas cabeças; serão tanto mais deuses de si
próprios quanto mais se tornarem humanos e conseguirem um estado de graça a que
poucos terão acesso: a capacidade de se colocarem na pele do outro.
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