quinta-feira, 4 de dezembro de 2014


                                                                   DANIEL SAMPAIO

Mobilizar os jovens

Alguns pensam que os jovens de hoje apenas pretendem divertir-se, sem que mostrem qualquer interesse em participar na vida do país ou aderir a um projeto cultural ou social. Esta crença falsa contribui para formar a ideia de que os jovens portugueses não se interessam por nada.
Não pensa assim a equipa Aventura Social, coordenada por Margarida Gaspar de Matos. Trata-se de um conjunto de investigadores que se dedicam à promoção da saúde dos jovens, através de estudos sobre os seus comportamentos e de acções mobilizadoras da sua participação no país.
A última iniciativa da Aventura Social chama-se Dream Teens e pretende mobilizar os jovens para uma participação social e cívica, em matérias como a saúde e a intervenção social. Esta boa ideia recebeu o apoio da Fundação Gulbenkian e o patrocínio da Sociedade Portuguesa de Psicologia da Saúde. Por gentileza dos organizadores, fui escolhido como “Embaixador” deste projecto e pude participar na sua primeira apresentação pública, que ocorreu em Lisboa em 22 de Novembro.
Através de um processo que partiu de uma inscrição voluntária na Internet, foram escolhidos 315 jovens, dos 11 aos 18 anos, que vão participar em dois eventos em Lisboa, onde tornarão públicos os seus estudos e propostas de intervenção. Um grupo mais pequeno constituirá um núcleo activo de consultores que tentarão promover uma cidadania juvenil mais participativa.


Na primeira apresentação em Lisboa, os Dream Teens tornaram públicas as suas propostas, através de uma discussão organizada em seis grupos de trabalho: Recursos Pessoais e Bem-Estar, Capital Social e Prevenção da Violência, Amor/Sexualidade/Parentalidade e Gravidez, Relações de Dependência e Acidentes, Estilos de Vida Saudáveis e Cidadania e Participação Social. Todos os grupos discutiram os temas e, em várias situações, foram organizadas investigações, através de pesquisa na Internet e por meio de inquéritos realizados junto de outros jovens. De destacar alguma metodologia de investigação já experimentada, com destaque para a preocupação em interpretar os dados e tirar certas conclusões preliminares. Em todos os grupos, foi nítida a vontade de participação e os relatos seguiram várias formas, umas mais criativas do que outras, tendo sobressaído alguns apontamentos teatralizados que divertiram a assistência.

É de louvar a presença do secretário de Estado da Saúde, Fernando Leal da Costa, na sessão de encerramento, com o intuito de receber directamente as propostas dos diversos grupos de trabalho.
Estão disponíveis 30 propostas concretas, algumas com várias alíneas. Na impossibilidade de as transcrever na totalidade, enuncio algumas: a luta contra o estigma ligado às perturbações mentais, através de uma campanha de sensibilização nacional; promover a prática de exercício físico; desenvolver o intercâmbio social, cultural e geracional entre jovens e idosos; facilitar a adopção de crianças sem família; manter a Educação Sexual como área prioritária em meio escolar; assegurar a existência de gabinetes de Informação e Apoio aos Alunos; informar os jovens sobre os programas já oferecidos pelas diversas comunidades.
Ao olhar para esta iniciativa, interrogo-me por que razão as nossas escolas não põem em prática projectos semelhantes e, em tantos casos, defendem apenas o silêncio na sala de aula, com os professores, esgotados, a tentar ser ouvidos.

 http://www.publico.pt/sociedade/noticia/mobilizar-os-jovens-1677293

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