Hackers entram nos e-mails e dão ordem para
transferir milhões
A intrusão em e-mails está a crescer em Portugal, refere a PJ. GNR registou
aumento da devassa online
A nova tendência dos ciberataques é a "fraude do CEO". Começa
assim: um hacker acede ao protocolo que identifica os computadores de uma
empresa (o IP), e logo, a todos os mails. O passo seguinte à intrusão no
sistema é enviar um e-mail fazendo-se passar por diretor executivo da firma,
dando ordens diretas a outros cargos executivos para transferirem milhares ou
milhões de euros para determinadas contas, a pretexto de se concretizar um
negócio.
Carlos Cabreiro, coordenador da secção de crime informático da Polícia
Judiciária de Lisboa, explicou ao DN que "já há dezenas de casos em
Portugal com a "fraude do CEO" e empresas, de todas as áreas, lesadas
em largos milhares de euros".
Hoje, Dia Europeu da Internet Segura, é importante sublinhar que "as
burlas através dos e-mails estão a assumir cada vez mais formas diferentes e a
"fraude do CEO" é só uma delas".
Por ano, entram, em média, mais de mil inquéritos por crimes informáticos
na PJ de Lisboa. Os mais expressivos têm sido os "crimes relacionados com
acesso a dados e credenciais de acessos a contas bancárias; phishing, e também
a extorsão sexual, que já chega aos 80 processos por ano só em Lisboa".
Devassa subiu 22%
Apesar de os crimes informáticos serem da exclusiva competência da Polícia
Judiciária, a GNR também investiga crimes realizados com recurso a
computadores. Na sua área territorial, a Guarda Nacional Republicana registou
um aumento de 22% do crime de devassa por meio informático, de 83 casos em 2015
para 102 em 2016, como referiu ao DN o Major Paulo Poiares. A devassa é uma
forma de humilhar alguém acedendo, por exemplo ao seu perfil no Facebook para
colocar uma mensagem falsa que denigra a pessoa. Também comete este crime quem
crie ou mantenha ficheiros que contenham dados pessoais que permitam uma
identificação de uma determinada pessoa referente a convicções políticas,
religiosas ou filosóficas, à filiação partidária ou sindical ou à vida privada
em geral.
Também o fenómeno do cyberbullying - ou da perseguição/humilhação de um
adulto ou adolescente através das redes sociais - tem vindo a ganhar cada vez
mais expressão. Segundo o major Paulo Poiares, a GNR registou um total de 3224
queixas por difamação, calúnia e injúria em 2016, grande parte delas através da
internet, no que foi uma subida de 3% destes três crimes que configuram
cyberbullying.
A Guarda assinalou ainda um aumento das burlas informáticas em 2016: 3171
burlas (mais 291 do que em 2015). A maior parte dos casos referem-se a esquemas
para lesar as vítimas relacionados com as plataformas de compras online. Por
exemplo, plataformas como o OLX têm vindo a ser usadas por burlões para
conseguir dinheiro fácil. Como explicou uma fonte policial ao DN, o burlão
coloca um anúncio de venda de um telemóvel, o interessado transfere o dinheiro
para o pagamento e depois nunca chega a receber o telemóvel. Ou o interessado
recebe em casa a máquina fotográfica de última geração que tinha comprado e
que, afinal, é uma simples máquina de plástico.
A GNR registou ainda uma subida das extorsões por via informática: 98 casos
(mais 22 do que em 2015). "Temos notado aqui uma subida dos casos de extorsão
sexual por via da utilização de fotografias íntimas ou vídeos para chantagear
alguém". Como nota o oficial da GNR, o que os dados gerais da
criminalidade em 2016 vão apontar, quando for divulgado o Relatório Anual de
Segurança Interna, em março, " é uma descida da criminalidade participada
mas um aumento de todos os crimes relacionados coma internet".
54% têm amigos desconhecidos
Para assinalar o Dia Europeu da Internet Segura, a Vodafone divulgou um
inquérito a 5298 adolescentes em 10 países sobre os seus hábitos online. Em
Portugal foram inquiridos 200 adolescentes. Em conclusão: 54% dos jovens
portugueses têm "muitos amigos "online que nunca conheceram na vida
real. Neste indicador, Portugal e Itália são os que apresentam o maior valor.
37% dos adolescentes portugueses conhecem pessoas que criaram perfis falsos
para publicarem conteúdos ou fotografias nas redes sociais. 70% admitiram que
muitas pessoas agem de forma diferente online daquilo que são ou fazem na vida
real. Nota positiva: 79% dos jovens receberam conselhos para serem positivos
nos media sociais, a maior percentagem em 10 países.
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