Nas salas de
aulas reina a “pequena indisciplina”
Só 0,01% dos alunos foram transferidos
compulsivamente de escola em 2014/2015, revela o Ministério da Educação. Aulas
expositivas “potenciam” problemas, dizem pais e directores.
7 de
Fevereiro de 2017, 7:04
NFACTOS / FERNANDO VELUDO
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Este é
um dos casos em que as minorias contam. Segundo um inquérito realizado junto
dos directores de 45 agrupamentos frequentados por 53.664 alunos, 8,23% dos
estudantes tiveram em 2015/2016 participações disciplinares. E, no entanto, a
nível internacional, os professores portugueses são dos que se queixam mais de
problemas de indisciplina em sala de aula, conforme dão conta inquéritos
internacionais a docentes.
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“Basta
um aluno ou dois malcomportados por turma para darem cabo de uma aula”, comenta
a propósito Alexandre Henriques, professor do 3.º ciclo e secundário e autor do
inquérito sobre indisciplina nas escolas, feito em colaboração com
a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas
(ANDAEP), que nesta terça-feira será publicado no blogue ComRegras de
que também é responsável.
É o
segundo inquérito sobre o tema realizado por Alexandre Henriques. O primeiro
retratava a situação em 2014/15. Para que pudessem ser feitas comparações entre
ambos, o autor levou em linha de conta apenas uma parte dos agrupamentos que
este ano responderam ao inquérito, de modo a abranger um universo de alunos
idêntico ao do ano passado: cerca de 35 mil. Resultados: o número de alunos,
neste universo, com participações disciplinares passou de 2014/2015 para
2015/2016 de 2641 para 3035; registou-se também um acréscimo nos dois tipos de
medidas disciplinares previstas pelo Estatuto do Aluno. Nas medidas ditas
correctivas, de que o exemplo mais frequente é a ordem de saída da sala aula,
passou-se de 4,18% para 5,28%; nas sancionatórias, que podem levar à suspensão
ou à transferência compulsiva de escola, a oscilação foi de 1,96% para 2,28%.
Aumentar
Em
números absolutos, nos agrupamentos inquiridos há registo de 3807 medidas
correctivas em 2015/2016 que foram aplicadas a 1854 alunos, o que quer dizer
que muitos dos visados são repetentes na matéria. O mesmo se passa nas medidas
sancionatórias, com um total de 1054 aplicadas a 802 alunos.
Aumentar
“Suspender um aluno
não se faz”
Em
resposta ao PÚBLICO, o Ministério da Educação indicou que em 2014/2015, últimos
números que tem disponíveis, “foram instaurados 215 procedimentos disciplinares
que originaram transferência de escola (a medida sancionatória mais gravosa), o
que representa 0,01% do total de mais de um milhão de alunos”.
“Sou
director há 14 anos e nunca suspendi um aluno, nem nunca o farei. Porque mandar
um aluno para a rua é mandar também o problema para a rua e isso não se faz.
Isto não quer dizer que não tenhamos tido problemas graves, mas conseguimos
resolvê-los na escola”, refere a propósito o presidente da Associação Nacional
de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira.
Ao
contrário da evolução de crescimento identificada nas conclusões apontadas no
estudo de Alexandre Henriques em colaboração com a ANDAEP, Manuel Pereira dá
conta de que no agrupamento de que é director, agrupamento de Escolas de Cinfães,
“há uma diminuição clara da indisciplina”, o que ele atribuiu à “grande
política de proximidade com os alunos e encarregados de educação”.
O
aumento reportado no estudo não significa “que haja mais casos de indisciplina
nas escolas, mas sim que estas estão mais atentas ao fenómeno e o reportam
mais”, afirma Filinto Lima, responsável da ANDAEP, que lamenta que o Ministério
da Educação não tenha dados públicos sobre este tema, tornando assim impossível
ter um retrato nacional da indisciplina na escola.
Aumentar
Aulas expositivas
potenciam indisciplina
Apesar
destas limitações, Filinto Lima não tem dúvidas de que, nesta matéria, “é a
pequena indisciplina que reina nas escolas”. Os alunos que olham para trás, que
atiram um avião de papel, que falam uns com os outros, são alguns dos casos que
aponta.
“Difícil
é sentá-los e depois mantê-los cativados e pró-activos durante a sala de aula”,
afirma, para acrescentar que as aulas expositivas, com o professor a debitar a
matéria, ainda muito frequentes em Portugal, acabam por potenciar “situações de
indisciplina”.
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“Pede-se
às crianças que fiquem imóveis numa sala de aulas durante 50 minutos”, lembra o
presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge
Ascenção, acrescentando que muito do que está em causa também aqui são as
práticas pedagógicas em sala de aula. “Aquilo que é normal numa criança, uma
forma de estar mais irrequieta, é vista muitas vezes como indisciplina”, frisa.
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Jorge
Ascensão considera, por isso, que há sempre “algum exagero” quando se fala de
indisciplina nas escolas. “Desde a ministra Maria de Lurdes Rodrigues, que
existe uma tendência de vitimização por parte dos professores que, por vezes,
quase leva a crer que Portugal é um país de crianças gangsters.
Claro que há situações graves nas escolas, mas sempre as houve”, diz.
Os dados
de um inquérito
aos professores realizado pela Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE), em 2013, dão conta de que os docentes
portugueses estão entre os que dizem gastar mais tempo a manter a ordem em sala
de aula: 17,7% do tempo de aulas é consumido nesta tarefa contra uma média de
13,1% na OCDE. No mesmo inquérito, Portugal está entre os cinco países com uma
maior percentagem de professores (38%) a reportarem terem turmas em que mais de
10% dos alunos têm problemas comportamentais.
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