Eles queriam dar aos filhos “a melhor escola
possível”. Por isso, construíram-na
Para além de
encarregado de educação, Ricardo é agora sócio do colégio do filho. Uma ideia
que começou como um desejo de três pais, concretizou-se três anos e dois
milhões de euros depois.
19 de Abril
de 2017, 17:27
Escolas não faltam em Mafra, mas nenhuma oferecia aquilo que queriam. Um
grupo de encarregados de educação de um colégio no concelho decidiu, por isso,
abrir os cordões à bolsa e construir “a melhor escola possível”, a que reunia
tudo o que imaginavam para o local de ensino dos filhos.
Procurando dar continuidade ao modelo educativo do Colégio Verde Água,
fizeram crescer a escola que os filhos já frequentavam: até então apenas creche
e pré-primária. Em Setembro, abrem portas as instalações de 1.º e
2.º ciclo, três anos e dois milhões de euros depois.
A ideia surgiu em conversa com três pais. Ricardo Calvão Silva era um
deles. “Já que aqui não há e se a gente fizesse?”. Foi uma “questão que surgiu
naturalmente”. Os filhos estavam a acabar a creche, os seis anos impunham que
se procurasse uma escola primária. Este foi o primeiro plano: desenhar um plano
de investimento, com capital próprio, para construir uma escola do primeiro ao
quarto ano.
Faltava o know how que João Gavilan, um dos directores do
colégio, tinha. Pensavam que convencê-lo seria o cabo dos trabalhos. “No quadro
actual das coisas”, não passava pela cabeça dos directores – João e a mulher –
fazer um investimento desta envergadura. “Mas a ideia estava de alguma forma
recôndita na nossa mente”, conta. Acabaram por alinhar.
Quando partiram para a concretização, já eram cinco pais mais os
directores. O projecto começou a ser pensado: arranjar terreno, concretizar
ideias, reunir consensos, projectar uma escola que espelhasse os desejos de
cada um. Depois, surgiu a necessidade de dar outro passo: crescer para o
quintos e sextos anos. “Senão daqui a quatro anos íamos novamente bater na
mesma questão”, antecipava Ricardo.
Juntaram-se mais dois pais, uma colaboradora da creche e um amigo. Fixou-se
o preço final: dois milhões de euros.
Desde que a ideia começou a ser maturada passaram três anos. Dois de obras.
Hoje, as paredes estão todas de pé e a relva já cresce.
Ainda poucos sabem da existência desta escola. Começaram a distribuir
panfletos no final de Março. As pré-inscrições vão em poucas dezenas. Em Abril
partiram para as visitas guiadas à escola para quem a quiser conhecer. Ainda
não estão definidos os preços de inscrição nem das academias (actividades
extracurricular para alunos do colégio e externos). A mensalidade de 1.º e 2.º ciclos
irá rondar os 400 euros.
De pai, fez-se sócio
Para além de encarregado de educação, Ricardo é agora sócio da escola do
filho. Garante que a ideia não é seleccionar os alunos. Mas a escola, 1.º e
2.º ciclos, nunca ultrapassará os 300 alunos. 250 era o ideal. O objectivo
é criar micro-aldeias, “onde toda a gente se conhece”. As turmas não
ultrapassam os 25.
Quando João Gavilan fala do modelo de ensino as frases saem-lhe redondas.
“Tem como metodologia de base a escola moderna”; “O aluno é o centro de todo o
processo de aprendizagem”. Trocado por miúdos, a intenção é que o aluno
frequente a escola “não só pelas competências formais, mas pelas vivências de
cidadania, habilitações informais e espírito crítico”. Explorar novas práticas
pedagógicas que estimulem a autonomia e o espírito crítico dos alunos é um dos
desígnios.
Há academias dentro do colégio com o objectivo de abrir o leque de
qualificações e experiências dos alunos. A academia das artes, da música, do
desporto (ginástica, esgrima, jiu jitsu, dança, ballet), das línguas (alemão,
mandarim e espanhol) são espaços abertos a alunos do colégio e externos.
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Directa e indirectamente, João espera criar 40 postos de trabalho. Tudo vai
depender do sucesso das academias.
“Fazer este modelo de ensino coincidir com os espaços” era uma exigência de
todos os sócios. Dos 11 mil metros quadrados de terreno, mais de metade são
espaços de recreio. Uma parte é relvado. Há um ginásio, anfiteatro interior,
salas e corredores largos.
Há um corredor principal que funciona como elo de ligação entre toda
escola. Quer no sentido literal: é o espaço para onde se caminha para qualquer
sala; quer no sentido figurado: é o local onde se encontram os alunos do
primeiro ao sexto ano, e estes convivem com várias formas de expressão e de
aprendizagem. O espaço é criado a pensar em exposições, palestras e eventos
culturais. “É assim uma escola pensada de raiz?”, Ricardo Calvão Silva quer
pensar que sim.
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