Mais de 11.500 alunos frequentam cursos
superiores profissionais
Cursos duram
dois anos e a sua oferta nos politécnicos não pára de crescer. Estudantes que
vêm do ensino profissional são o principal público, mas há quem os procure para
fazer reciclagem de conhecimentos.
3 de Abril
de 2017, 7:40
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No primeiro ano de actividade destes
cursos, as instituições privadas mostraram maior interesse nestas formações do
que as públicas ADRIANO MIRANDA
Três anos depois de terem surgido como uma novidade no ensino superior, os
cursos técnicos superiores profissionais (Tesp) são frequentados por mais de
11.500 alunos. Cerca de 80% destes alunos frequentam instituições públicas.
Estas novas formações de dois anos, leccionadas em exclusivo nos politécnicos,
já têm mais inscritos do que os Cursos de Especialização Tecnológica (CET), que
foram os seus antecessores.
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No total, só no ensino público 9192 frequentam os Tesp nos dois anos de
duração destas formações, revela o Conselho Coordenador dos Institutos
Superiores Politécnicos (CCISP). No sector privado não existem dados acerca do
total dos alunos que frequentam estes cursos, mas sabendo-se que entraram, nos
últimos dois anos 1018 e 1293 novos alunos, respectivamente, pode estimar-se em
cerca de 2300 o total de alunos que frequentarão estes cursos nas instituições
particulares. Ou seja, o total dos alunos que frequentam estes cursos será
superior a 11.500 neste momento.
Estes números referem-se apenas aos alunos que frequentam os Tesp. Se for
considerado o total dos que se inscreveram até agora, mas que inclui ainda os
que desistiram entretanto e já não frequentam estes cursos (cerca de 1400),
percebe-se que a procura pelos Tesp foi ainda mais acentuada nos
dois últimos anos lectivos.
Aumentar
De acordo com dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), em 2015/16 inscreveram-se 6149 novos
alunos e neste ano lectivo a tendência mantém-se: houve 6832 estudantes a
entrar nestes cursos. Isto depois de os Tesp terem tido um arranque a
meio-gás em 2014/15 com apenas 395 alunos inscritos.
Estes números aproximam-se da estimativa apresentada pelo anterior Governo,
segundo o qual estes cursos podiam formar cerca de 10.000 novos diplomados por
ano, ajudando o país a cumprir a meta europeia de ter 40% da população entre os
30 e os 34 anos com uma formação superior até 2020. O contrato estabelecido
pelo actual Governo com as instituições de ensino superior prevê, porém, uma
meta mais ambiciosa: dentro de três anos devem ser 20.000 os alunos formados
por ano nos cursos superiores profissionais.
Reconhecidos como formação superior
O que é facto é que, em três anos, estes cursos já ultrapassaram o nível de
procura dos CET, criados em 2006. Em 2013, 7000 alunos frequentavam Cursos de
Especialização Tecnológica. Tanto os cursos Tesp como os CET estão previstos no
quadro europeu de qualificações que saiu do processo de Bolonha. No entanto,
enquanto os CET estão classificados com o nível 4, os cursos técnicos
superiores profissionais têm o nível 5. São por isso reconhecidos como
formações de ensino superior.
“A clarificação de que estes eram cursos superiores foi importante”,
valoriza o presidente do CCISP, Nuno Mangas, reconhecendo que este facto tem
contribuído para a procura crescente que estes cursos têm tido. “Têm outro
reconhecimento”, sublinha. Ao mesmo tempo, os cursos técnicos “vieram dar a
possibilidade aos alunos que estão no profissional de ir para o superior”,
sublinha o mesmo responsável.
Quando Rúben Pires, de 24 anos, terminou a formação em mecatrónica
automóvel no Centro de Formação Profissional de Abrantes, “queria continuar a
estudar”. Lembrou-se de uma visita que tinha feito, ainda no 9.º ano, ao
Instituto Politécnico de Leiria – “tinham excelentes condições e já eram
relevantes no ramo automóvel”, recorda o estudante nascido na Sertã – e decidiu
inscrever-se no curso de Tecnologia Automóvel.
Foi um dos pioneiros daquele curso, no ano lectivo 2015/16. Há um mês e
meio, começou o estágio curricular no Centro Porsche de Leiria, onde trabalha
na área de logística. Vai estar por lá seis meses, período que é obrigatório no
currículo de todos os cursos Tesp. Esta é também a principal mais-valia que a
tutela e as instituições do sector reconhecem nestes cursos. “Não estava à
espera de já ter aprendido tanto em tão pouco tempo”, conta ao PÚBLICO em jeito
de avaliação da experiência.
Maioria vem do ensino secundário profissional
Os cursos técnicos foram criados com o principal objectivo de dar uma
resposta do ensino superior a alunos como Rúben Pires, que
terminaram o ensino secundário num curso profissional e a àqueles aos quais o
acesso a uma licenciatura é mais difícil – sobretudo porque nem sempre têm
formação a disciplinas específicas exigidas por alguns cursos. Ainda que, ao
contrário do que acontece com licenciaturas e mestrados, existam ainda poucos
dados estatísticos que permitam traçar um retrato destes alunos, este é o
principal público destas formações, segundo as instituições de ensino superior.
No entanto, desde que estes cursos foram criados que tem emergido uma outra
tendência: a procura por parte pessoas com formações anteriores noutras áreas.
Este é um público que procura fazer reciclagem de conhecimentos ou
reposicionar-se em termos de carreira e que vê numa formação superior com um
carácter eminentemente prático uma oportunidade de contacto com o mercado de
trabalho.
Foi nisto que pensou Carla Freitas, 36 anos, licenciada em gestão de
empresas pelo Instituto Politécnico de Bragança, quando decidiu inscrever-se
num curso técnico do Instituto Politécnico do Cávado e Ave – uma instituição
sediada em Barcelos, mas que decidiu criar oferta nestes cursos nos concelhos
vizinhos de Braga e Guimarães.
Carla frequenta o curso de Exportação e Logística, uma área que a
interessava “desde sempre”. “Eu queria uma formação de nível superior que
tivesse uma componente teórica e uma componente prática, que aqui nos é
conferida pelo estágio”, justifica.
Hoje, está em estágio numa empresa têxtil da região, tratando de questões
aduaneiras para a exportação e já se vê a trabalhar na área quando terminar a
formação, dentro de quatro meses. “É deste tipo de sinergias entre o ensino
superior e as empresas de que o país precisa”, defende.
No primeiro ano de actividade destes cursos, as instituições privadas
mostraram maior interesse nos novos cursos do que as públicas. Em 2014, a
Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) recebeu 138 pedidos de criação de
cursos técnicos superiores profissionais e menos de um terço era de
instituições públicas. O rácio inverteu-se neste ano lectivo. Dos 598 cursos
aprovados actualmente, 430 (72%) são de instituições públicas.
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Ainda assim, os cursos técnicos são vistos como uma mais-valia pelo sector
privado. “A oferta provou a sua relevância e pertinência”, classifica o
secretário-geral da Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado
(APESP), Miguel Copetto. O volume “assinalável” de procura por parte dos
alunos e o “forte envolvimento” das empresas no desenho dos novos cursos são os
dois factores mais valorizados por este responsável.
Contudo, nem tudo corre bem, defende a APESP. Desde logo, o processo de
autorização de funcionamento dos cursos, da responsabilidade da DGES (ver
caixa) tem sido “excepcionalmente moroso”. “Nomeadamente na área da saúde, mais
de três anos passados, algumas das entidades que por lei têm de se pronunciar
sobre a aprovação dos cursos ainda não o fizeram”, explica.
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