Dificuldades na
linguagem antes do 1.º ciclo
Entrar no primeiro ciclo sem ter dominado a comunicação oral, seja por
dificuldades em exprimir-se ou em perceber o que lhe é dito, pode comprometer o
sucesso escolar.
FILIPA MENDÃO e
HÉLIA MARQUES
8 de Outubro
de 2017, 10:03
ADRIANO MIRANDA
É pela
linguagem que o ser humano comunica e aprende. Entrar no primeiro ciclo sem ter
dominado a comunicação oral, seja por dificuldades em exprimir-se ou em
perceber o que lhe é dito, pode comprometer o sucesso escolar. A importância de
que a linguagem se reveste em todo o processo de desenvolvimento da criança
torna-se evidente, uma vez que vai mediar todas as suas aprendizagens e
aquisições.
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A
criança pode ter dificuldades numa ou nas duas áreas da linguagem, a
compreensão e a expressão (excluído eventual défice de audição). A compreensão
refere-se ao que a criança assimila e como processa a informação que lhe foi
transmitida, e a expressão ao que a criança diz e à forma como o transmite.
Existem vários sinais a que se deve estar atento, tanto ao nível da compreensão
quanto ao da expressão:
– a criança parece estar atenta ao que lhe dizem, mas não se lembra do que lhe
foi solicitado;
– nem sempre responde a perguntas ou pedidos;
– tem dificuldade em iniciar uma conversa e responde de forma curta quando lhe
é feita uma pergunta;
– apresenta um discurso desorganizado e sem sequenciação de ideias;
– produz habitualmente frases simples e tem dificuldade em organizar as
palavras na frase.
Detectar
precocemente estas dificuldades é, pois, essencial: quando existem alterações
no processo de aprendizagem da linguagem oral é possível que venham a acontecer
posteriores dificuldades de aprendizagem da leitura e escrita (a própria
investigação do desenvolvimento de crianças com dificuldades de leitura e
escrita assim o indica).
A
linguagem apresenta três grandes dimensões: a forma (como se diz) – fonologia
(sons), morfologia (palavras) e sintaxe (o arranjo destas); o conteúdo (o que
se diz) – semântica/léxico; e o uso (onde se diz) – pragmática.
Entre as
alterações de linguagem oral existentes na infância, são as dificuldades
fonológicas – muitas vezes desvalorizadas por se considerar que serão superadas
com a entrada no primeiro ciclo – que podem ocasionar maiores prejuízos
na aprendizagem posterior da leitura e da escrita. Na verdade, quando a criança
é exposta a novas aprendizagens sem as bases linguísticas suficientes, terá
ainda maiores dificuldades. As insuficiências na oralidade acabam por
influenciar direta ou indiretamente todas as áreas curriculares, visto que a
avaliação será feita não só pelo que aprenderam, mas também pela forma como
transmitem os seus conhecimentos, nomeadamente através da escrita.
A
linguagem oral que uma criança apresenta na entrada para o primeiro ciclo é a
base da linguagem escrita com que passará a confrontar-se, ou seja, o
desenvolvimento da linguagem oral está intrinsecamente relacionado com a
aprendizagem posterior da leitura e escrita e o conhecimento de ambas as
vertentes da língua (oral e escrita) é indispensável para a integração e
domínio da maioria dos conteúdos disciplinares que constituem o currículo
escolar dos alunos.
Isto
quer dizer que as aprendizagens assentam em conhecimentos previamente
adquiridos: para somar ou subtrair é necessário conhecer os números; para ler é
necessário conhecer as letras.
Em suma,
o desenvolvimento da linguagem é uma variável que influencia bastante o
desempenho académico da criança no primeiro ciclo, sobretudo nas áreas da
leitura e da escrita. As dificuldades numa e noutra estão bastante
relacionadas, uma vez que a primeira condiciona fortemente as segundas. Daí a
importância dos adultos (pais/educadores/professores) estarem atentos e serem
agentes ativos no desenvolvimento linguístico das crianças, que começa com a
correção quotidiana dos erros de expressão.
A
rubrica Estar Bem, que esta semana conta com a colaboração das Terapeutas da
Fala do CADIn
– Neurodesenvolvimento e Inclusão, encontra-se publicada no P2,
caderno de Domingo do PÚBLICO. As autoras seguem o Acordo Ortográfico
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