Um bom professor
é determinante para a qualidade dos sistemas educativos
Nos 51 anos da publicação da Recomendação sobre a Condição Docente, é, mais
uma vez, o tempo de a sociedade mostrar aos professores que estes são imprescindíveis.
5 de Outubro
de 2017, 7:56
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Este
ano, no dia 5 de outubro, completam-se 51 anos que foi publicada pela UNESCO e
OIT a Recomendação relativa à Condição Docente. Vale ainda hoje a
pena reler os 146 artigos desta recomendação que estabeleceu as bases para que
a profissão docente fosse respeitada e sobretudo apoiada pelos sistemas
educativos. Muitas destas recomendações mantêm ainda em Portugal e no mundo,
uma pertinência resiliente mostrando que nenhum direito ou acordo é outorgado
sem negociação ou deve ser considerado final ou perenemente adquirido.
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Não
temos dúvidas pela investigação e pelo bom senso — aqui as duas perspetivas
estão de acordo — que um bom professor é determinante para a qualidade dos
sistemas educativos. É mesmo habitual dizer-se que “nenhum sistema educativo é
melhor do que os seus professores”. E aqui começam a desfilar as condições que
se consideram essenciais para que um professor possa estar à altura de ser a
peça chave da Educação, ela própria considerada a peça chave do
Desenvolvimento, da Sustentabilidade e da Justiça Social. Deste desfile de
condições de sucesso — estavelmente descritos na literatura de especialidade —
chamaríamos a atenção para três deles: o conhecimento, a comunicação e o
compromisso.
Precisamos
de professores com conhecimento. O conhecimento que o professor precisa de ter
é muito alargado: precisa de conhecer — entre outras áreas — o que ensinar (e
não só o que vem nos manuais escolares), precisa de conhecer o aluno (e
sobretudo a forma como ele aprende melhor), precisa de conhecer capazmente o
meio sociocultural onde está a sua escola e os seus alunos. Outra condição
imprescindível é a comunicação. Um professor é um profissional cujo sucesso
está muito dependente da interação que ele estabelece com os outros. Paulo
Freire ensinou-nos que “… os homens educam-se entre si, mediatizados pelo
mundo”. Os professores estão mergulhados nesta dinâmica de intensas interações
com os alunos, com os seus colegas, com as famílias. A capacidade de comunicar,
de encontrar as formas mais eficazes que conduzam ao estabelecimento de
relações respeitosas, de aprendizagem, positivas e frutuosas são uma parte
imprescindível do seu trabalho. Por fim, precisamos de professores que se
sintam atores implicados na Educação. Profissionais motivados, que tenham e
alimentem elevadas expectativas sobre a importância da sua ação, sobre a
imprescindibilidade da Educação e a obrigação de “não deixar nenhum aluno para
trás”.
Para
disporem destas condições de sucesso, os professores têm que afastar algumas
ameaças que pairam sobre a sua profissão. Precisamos que os professores
mantenham e desenvolvam a sua autonomia como profissionais com possibilidade de
gerir o currículo. Se o currículo for espartilhado e uniformizado, certamente
que o professor verá o seu conhecimento muito restringido. Não seria mais que
um “dador de aulas” que outras pessoas conceberam. Se o professor não tiver
tempo e espaço para usar múltiplas formas de comunicação e representação do
conhecimento, ele vai certamente tornar-se obsoleto e cumprir a profecia da sua
irrelevância. Se o professor não dispuser de ambientes positivos, de confiança,
de apoio e de segurança que lhe permitam fundamentar o seu compromisso, ele
será um profissional burocrático e incapaz de ter ou transmitir esperança no
resultado do seu trabalho.
Os
professores têm, no meio de tantas vicissitudes, conseguido manter uma postura
de grande dignidade e relevância social. São eles que, na trincheira da frente,
são os elementos essenciais para a construção do conhecimento, para o
estabelecimento de relações humanas justas e equilibradas; são eles que
constituem a alavanca que multiplica e amplifica sonhos e saberes. E, no
entanto, muito se fala das fraquezas dos professores. Quase toda a gente está
disponível para dizer aos professores o que eles deveriam fazer. A essas
pessoas os professores recomendam que antes de falar “caminhem nos nossos
sapatos”, verão o quão desgastante e exigente é o nosso quotidiano.
Nos 51
anos da publicação da Recomendação sobre a Condição Docente, é, mais uma vez, o
tempo de a sociedade mostrar aos professores que estes são imprescindíveis, e o
quanto deve valorizá-los e apoiá-los, enquanto trave-mestras na preparação do
futuro dos nossos alunos.
Irina
Bokova, diretora-geral da UNESCO, saudou em 2012 o Dia Mundial dos Professores
com estas palavras: “Neste dia apelamos para que os professores disponham de
ambientes de apoio, de formação adequada, bem como garantias sobre os seus
direitos e responsabilidades. Esperamos muito dos professores e eles, em troca,
têm o direito de esperar muito de nós.”
Talvez
seja isto que os professores gostariam de ouvir da Sociedade no seu Dia
Mundial: “Esperamos muito de vocês e podem contar connosco para vos apoiarmos o
melhor que pudermos e soubermos”.
5 de
outubro de 2017
David Rodrigues – Presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes
de Educação Especial
Lurdes Figueiral – Presidente da Associação de Professores de Matemática
Carlos Gomes – Presidente da Associação Nacional de Professores de Educação
Visual e Tecnológica
Manuela Encarnação – Presidente da Associação de Professores de Educação
Musical
Alberto Gaspar – Presidente da Associação Portuguesa de Professores de Inglês
Luis Ribeiro - Presidente da Associação de Profissionais de Educação de
Infância
Presidente da Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação
Especial; Conselheiro Nacional de Educação
Professora de Matemática e presidente da direcção da APM
Professor
Membro do grupo de trabalho do perfil dos alunos à saída da escolaridade
obrigatória; Presidente da Associação de Professores de Educação Musical
Professor
Educador de Infância
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