Hábitos de sono irregulares aumentam risco de obesidade nos rapazes
Os
investigadores estudaram os hábitos de sono de 8273 crianças. Conclusões chamam
a atenção para a necessidade de esforços adicionais para controlar os hábitos
de sono durante a semana, especialmente entre os rapazes.
LUSA
16 de Abril de 2018, 10:57
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RITA BALEIA
As crianças do sexo masculino com maus
hábitos de sono apresentam "risco muito elevado de obesidade",
revela um estudo desenvolvido por investigadores da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
Com base nas recomendações da Academia
Americana de Pediatria (2016), que estabelece a duração adequada de sono entre
nove e 12 horas por noite para as crianças dos seis aos 12 anos, a
investigação, visou analisar "a relação entre os hábitos de sono irregulares"
(mais ou menos tempo que o recomendado) e "o risco de excesso de peso e
obesidade na população pediátrica portuguesa".
Os investigadores estudaram os hábitos
de sono de 8273 crianças (4183 do sexo feminino) com idades entre seis e os
nove, bem como "a actividade física e os comportamentos sedentários (por
exemplo, o tempo passado a ver televisão ou a jogar no computador), através de
questionários preenchidos pelos pais", revela a Universidade de Coimbra
(UC), numa nota enviada à agência Lusa.
Foram também avaliadas, no âmbito da
mesma investigação, que foi desenvolvida, nos últimos seis anos, por uma equipa
de peritos do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da FCTUC,
"algumas variáveis antropométricas, como a estatura e o peso das crianças
e calculado o seu índice de massa corporal (IMC)", acrescenta a UC.
As associações entre os hábitos de sono
e o risco de excesso de peso e obesidade para meninos e meninas foram
realizadas separadamente.
Os resultados, publicados no American
Journal of Human Biology, evidenciam que "os rapazes que apresentavam
hábitos de sono irregulares para a sua idade, isto é, quer abaixo das nove
horas/noite, quer acima das 12 horas/noite, durante a semana, têm 128% maior
probabilidade de serem classificados como crianças com excesso de peso comparativamente
com aqueles que dormiam as horas recomendadas", afirma o investigador
Aristides Machado-Rodrigues.
Curiosamente, mas tal como em alguns
estudos anteriores, entre as raparigas, "não houve associações
significativas entre a duração do sono e o risco de obesidade, nem nos dias da
semana nem durante o fim-de-semana", refere ainda o investigador do CIAS,
citado pela UC.
Mas, sustenta Aristides
Machado-Rodrigues, "o cumprimento dos hábitos de sono recomendados na
infância" é "um aspecto crucial da saúde cognitiva e do
desenvolvimento harmonioso das crianças".
A obesidade é considerada uma das
epidemias do século XXI pelo facto de estar associada a inúmeras
cormobilidades, especialmente de natureza metabólica e cardiovascular.
Aristides Machado-Rodrigues salienta "a sua etiologia multifactorial",
referindo "a existência de um conjunto alargado de variáveis, de natureza
biológica, genética, social e comportamental, que concorrem decisivamente para
o facto de um indivíduo poder padecer de adiposidade aumentada, para além do
padrão normal".
As conclusões deste estudo, que está
inserido numa investigação mais ampla sobre Prevalência da obesidade na
infância em Portugal, coordenada por Cristina Padez, e financiada pela
Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), chamam a atenção para a necessidade
de esforços adicionais para controlar os hábitos de sono durante a semana,
especialmente entre os rapazes portugueses, indica a UC, na mesma nota.
Pais devem reforçar regras
Aristides Machado-Rodrigues enfatiza que
"os pais devem reforçar as regras familiares da 'hora de deitar' das
crianças para que estas possam ter o tempo de sono diário recomendado para a
saúde".
"A literatura sustenta, de forma
inequívoca, que a privação do sono, especialmente em idades pediátricas, está
associada a problemas de saúde aumentados, não só de índole cognitivo, mas
especialmente relacionados com a diminuição da tolerância à glicose, o qual é
um factor de risco para a obesidade", salienta o investigador.
"Na actualidade, e de forma muito
pragmática, não podemos deixar de manifestar a nossa preocupação para os
comportamentos sedentários de ecrã, vulgo tablets, telemóveis e
computadores, que as crianças e jovens perpetuam pela noite dentro,
comprometendo as horas de sono recomendadas, muitas vezes fechados no quarto e
sem conhecimento dos pais", destaca Aristides Machado-Rodrigues.
Nos últimos anos, estudos
epidemiológicos relataram que a duração irregular do sono pode ser um factor de
risco adicional para excesso de peso entre as crianças. Mas, conclui a UC,
"os hábitos de sono são os que têm merecido menor atenção comparativamente
a outros comportamentos do quotidiano, como a actividade física, os hábitos
nutricionais ou ainda o sedentarismo".
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