(Escher, O Anel de Moebius)
O Anel de Moebius
A opacidade labiríntica em que vivemos ilustra a pseudo-imensidão perpetuada no mito do eterno retorno e impede-nos de vislumbrar outras perspectivas num contínuo infinito de repetições históricas, sociais, culturais e políticas.
O mundo de Escher invade a realidade moderna e somos acometidos por uma inquietante estranheza, condenados que estamos a percorrer o labirinto de Minotauro.
O conventículo astucioso augura uma nova sociedade inócua nas suas ficções sociais, mas fértil na solidão, no individualismo exacerbado, no vitalismo erótico e no mercado de almas políticas, onde prevalece em tais sesmarias.
Como se de um palimpsesto se tratasse, a parte e o todo coincidem e nada podemos reescrever na história da humanidade, face à lucidez sólida sem benevolência que caracteriza o eu da percepção em dicotomia com o eu da intermediação, superficial, escopo e paradoxal.
Como diz Deleuse “De tanto deslizar, passar-se-á para o outro lado, uma vez que o outro lado não é senão o sentido inverso. E se não há nada para ver por trás da cortina é porque todo o visível está ao lado da cortina, que basta seguir o mais longe, estreita e superficialmente possível. Para inverter o seu lado direito, para fazer com que a direita se torne esquerda e inversamente”.
Talvez, por isso, prefira o velho estímulo da tragédia grega, o instante de reconhecimento em que todos compreendem por que razão o sofrimento de Ayante, de Orestes ou de Climnestra é tão intenso que só eles nos permitem superar, em termos escatológicos, o anel de Moebius.
Inês Aguiar
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