RUBROS AFLUENTES
O meu coração está mudo,
nem uma palavra dele sai
nem um suspiro se esvai
o Silêncio governa-me tudo.
Sinto as palavras em ebulição,
chocando ferozmente entre si.
Exigem sair, querem chegar a ti
mas perdem-se a caminho da mão.
«Que se passa?», pergunto-me eu.
«Onde estão os meus rios ferventes?»
Sei que a sua fonte não se perdeu,
sei que permanecem rubro-quentes.
É a tua imagem que em mim cresceu
os rios desviam-se e são de ti afluentes.
21/08/2010
Mauro Maia
FUGA
Se eu te pudesse escapar,
fugir dos teus abraços,
soltar-me e me afastar,
retirar-te os meus pedaços,
poder dançar num outro salão,
provar outros lábios abertos,
tocar outra cintura com a mão,
de outra ter meus olhos cobertos,
ficar zonzo com outro sorriso,
aquecer-me com outra cintura,
ter noutra tudo o que preciso,
viveria numa constante tortura
seria infeliz sem qualquer aviso
porque fugiria indo à tua procura.
10/11/2010
Mauro Maia
QUARTO ESCURO
O quarto está às escuras,
as janelas estão encerradas,
as luzes estão apagadas,
acabaram as emoções duras.
Somente o barulho da rua,
inconstante e indefinido,
treme o silêncio contido
mas a cama permanece nua.
Cobertores revirados no chão,
os lençóis em parte incerta,
eu a recuperar a respiração.
E tudo em solidão se coberta,
desejando o toque da tua mão.
Vem a mim, a porta está aberta!
20/11/2010
Mauro Maia
BANHO AGUARDO
Hoje acordei assim estranho,
perdido no meu escuro interior.
É um sentimento de tamanho,
sentimento longo e sem cor,
elefante em corpo de musaranho.
É algo sem tristeza e sem dor
prato de bronze sem estanho,
é luz do sol forte mas sem calor,
comichão funda que não arranho.
Levanto-me e sacudo o torpor
Preparo-me um relaxante banho
e aguardo que chegues, meu Amor!
12/12/2009
Mauro Maia
Aguardamos por mais poemas....
1 comentário:
Esla Biblioteca
Tinha a minha voz embargada,
a respiração em mim fenecida,
nada me chegava e via nada,
a face a nada era parecida.
Era borboleta num casulo,
e abelha no meu favo de mel,
abrigado dum Mundo maluco
que era Caim do meu Abel.
Nesta tormenta que é a Vida,
em trovões tornados constantes,
surge firme uma mão estendida:
quebrando o silêncio de antes,
a ESLA biblioteca renascida
floresce entre livros e estantes.
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