quinta-feira, 11 de março de 2021

Semana Nacional de Leitura - "O que faltava a Dália", de Joana Alves (10ºC)

 No âmbito da Semana Nacional de Leitura, apresentamos três trabalhos merecedores de destaque de alunas do 10ºC, da profª Liliana Silva:


O que faltava a Dália

“A verdade sempre vem ao de cima”

Numa cidade como outras quaisquer, onde as crianças já não brincam na rua, as vizinhas já não combinam de se encontrar para falar do que viram, ouviram ou do que o outro diz que viu ou ouviu, existe uma menina, Dália, que vive com a sua avó Adelaide, desde que se lembra. A avó diz-lhe que a mãe morreu poucas semanas depois do seu nascimento, mas sobre o seu pai a avó nunca lhe contou nada, dando sempre o motivo “A tua mãe nunca me contou sobre quem ele era”.

A avó de Dália deu à neta o que pôde. Trabalhava como governanta na casa de uma família, os Morgado, o Sr. André Morgado, a Srª. Sabrina, o filho Nicolas e a filha Nina, que, claramente, não passavam dificuldades financeiras. Dona Adelaide, na altura em que a filha morreu, pediu aos patrões para que lhe cedessem um dos quartos da casa onde ela e a sua neta pudessem dormir. Os patrões aceitaram o seu pedido, pois viam benefícios em terem a governanta por perto, especialmente porque a Srª. Sabrina se encontrava grávida de Nina e não podia usufruir novamente de uma licença de maternidade, pois a nível profissional seria tempo perdido e oportunidades desperdiçadas.

Dália é uma menina diferente do que vemos hoje em dia, provavelmente por ter sido criada pela avó. Gosta bastante de ler, tirar fotografias com a sua Instax e, quando se sente mais em baixo, adora escrever cartas a si mesma, como se fosse a sua própria confidente. Como todos os adolescentes da sua idade, tem a sua conta nas redes sociais onde publica grande parte das suas fotografias e conversa com os amigos mais chegados.

Nina e Dália têm uma diferença mínima de idades, Dália é apenas sete meses mais velha, por isso ambas são bastante próximas. Têm a paixão pela leitura em comum, provavelmente por Nina ter sido de certa forma criada pela Dona Adelaide, que sempre gostou de lhe contar histórias. Por outro lado, Nicolas não se importava muito com a sua irmã e com a neta da governanta, pois nunca teve uma grande empatia com as duas. Ele é cinco anos mais velho e um adolescente principalmente preocupado com o seu número de seguidores nas redes sociais e com o futebol, e, ao contrário das raparigas, apenas lê tópicos desportivos.

Recentemente, Dália tem-se sentido incompleta e mais curiosa em saber quem é o seu verdadeiro pai, mas não pergunta à avó porque já sabe qual será a sua resposta... Na semana do seu aniversário, Adelaide perguntou à neta o que queria receber, foi então que a menina viu a sua oportunidade e, usando os seus melhores argumentos, pediu à avó que lhe contasse mais acerca do seu pai. Finalmente, a avó cedeu e contou à neta que o pai nunca soube da sua existência, já que ele tinha terminado o namoro com a mãe antes de saber da gravidez dela. Dália também queria saber onde é que o poderia encontrar, a avó revelou-lhe o local de trabalho do pai e prometeu ser a própria a levá-la ao seu encontro.

Como prometido, a avó levou a neta a conhecer o pai, Jorge, que trabalha como fotógrafo numa revista. Adelaide esperou junto ao carro e deixou a neta seguir o caminho sozinha. Dália iria finalmente falar com o seu pai, porém não encontrou as palavras certas e acabou por se apresentar como uma fã do seu trabalho de fotógrafo. Jorge ofereceu-se para tirar uma fotografia com a menina e a autografá-la. Dália, para evitar que aquela fosse a primeira e última vez que visse o seu pai, mostrou algumas das suas fotografias e ofereceu-se como ajudante e aprendiz, sem a necessidade de qualquer pagamento.

Passada uma semana desde o encontro entre pai e filha, Dália sentia-se bastante empenhada em trabalhar com o progenitor e em conhecê-lo melhor. Já o segue em todas as redes sociais, sabe que está “num relacionamento” e que não tem filhos e partilham o gosto pela música rap com versos fortes e significativos.

Olívia, a madrinha de Dália, vivia fora daquela zona e era a melhor amiga da mãe. Ela vinha visitar Dália todos os meses e conhecia-a muito bem, por isso começou a desconfiar de que algo se passava na vida da sua afilhada, pois reparou que Dália começara a seguir o pai e a gostar das publicações do mesmo. Olívia, embora nunca tivesse revelado a ninguém, sempre soube quem era o pai de Dália, pois a sua amiga contou-lhe mesmo antes de contar à sua mãe, a Dona Adelaide, porém nunca revelou à afilhada ou ao Jorge que sabia de toda a verdade. Olívia combinou visitar Dália assim que reparou na aproximação cada vez mais evidente entre Jorge e a filha (através das redes sociais).

Quando a madrinha viu Dália sentiu necessidade em perguntar-lhe quem era o tal fotógrafo que ela andava a seguir. Esta respondeu-lhe dizendo que era um fotógrafo que andava a ajudar recentemente. Olívia não gostava da situação, nunca apoiou a relação do Jorge com a mãe da menina. Após pôr a conversa em dia com Dália, foi fazer uma visita a Jorge, este reconheceu-a de imediato e recordou-se da ex-namorada, primeiro ficou confuso pois, da última vez que falaram foi sobre o mal que ele fazia à namorada e em como não deviam estar juntos, razão que o levou a terminar o relacionamento na altura e, logo de seguida, toda a verdade veio ao de cima!

Entretanto, Dália ligou à madrinha a perguntar-lhe se iam jantar juntas com a avó. Jorge ouviu a voz de Dália e reparou que no telemóvel de Olívia dizia “afilhada”. Jorge não hesitou em questionar a Olívia e a revelar-lhe que conhecia a menina. Aproveitou para saber um pouco mais sobre ela e a sua família, nomeadamente sobre quem eram os pais da aspirante a fotógrafa. Apesar da recente proximidade, Dália nunca tinha falado sobre a sua família a Jorge e, naquele momento, Olívia soube que deveria revelar a verdade, pois a proximidade entre ambos era notória e rapidamente iriam chegar à conclusão de que ele era o pai da Dália.

Passaram-se alguns dias desde que Jorge tomou conhecimento da verdade, mas não sabia como abordar a sua filha, porém não foi necessário, pois Dália, decidida como sempre, tomou a iniciativa e revelou ser sua filha. Este disse-lhe, com toda a sinceridade, que tinha descoberto há cerca de três dias mas que não sabia como abordar o assunto e aproximar-se mais dela.

Os dois choraram e abraçaram-se. A avó ficou feliz pela neta e passados tantos anos voltou a estabelecer contacto com o pai de Dália, para o bem da sua menina e por achar que seria o que a sua filha gostaria que acontecesse. Finalmente Dália sentia-se completa!

Joana Alves, 10º C, n.º 13

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