“ O Nosso Reino”
Na hermenêutica da suspeita atual, o laudatório dilacerante e dessacralizado converte-se numa nova mitologia, sem enraizamento telúrico, mas atualizada numa universalidade pubescente e púbere do desejo de ser deus.
No nosso reino, o preço a pagar por se ser considerado um deus é a ilusão fanática dos acólitos, e face à inexorabilidade das novas exigências insones, a nossa capacidade autotrófica parece usurpar o equilíbrio do nosso fundamento autopoiético.
A pesporrência úbere, própria daqueles que esgotaram o que são, o que foram, esvaziados ontologicamente deles próprios, metamorfoseia-se, de forma inconspícua, no género de pessoas divinas que sempre desprezaram.
Deuses que somos, consubstanciamos o voo de Minerva e no crepúsculo anunciamos o nosso consentimento à opressão e exploração assimétrica e anagógica de senhor versus escravo, de perverso versus histérico histriónico, de deus versus crente.
Sem teorias escatológicas e tanatológicas, o escopo da nossa mancha anamórfica é semelhante ao destino das Parcas, três deusas denominadas As Meias – Cloto que tece, Láquesis que determina o seu comprimento e Átropo que corta o fio da vida.
Como nos diz Moliére “Morremos apenas uma vez e dura uma eternidade”, este é o nosso reino… sem laudativos, apenas heautognose.
Inês Aguiar
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